NOME DE POBRE NO BRASIL

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

AJUDE A EVITAR O PLÁGIO

] Quer saber se seu texto foi plagiado? Vá a www.plagium.com, recorte um trecho e cole lá. Numa busca rápida, ele diz onde aquele texto está publicado. E, se puder, doe algo para proteger os direitos do autor! O ex-presidente da Rússia, Vladimir Putin inseriu em sua dissertação de mestrado vários e longos trechos do livro "Strategic Planning and Policy", de William R. King e David I. Cleland, professores da Universidade de Pittsburgh. Ainda não foi punido! Nos últimos anos, vários professores europeus, denunciados como criminosos por terem praticado plágio, tiveram seus títulos de doutor cassados, depois de confirmadas as denúncias de que suas teses não eram obras criadas por eles, mas frutos do trabalho de outros . Em 2011, a Universidade de Bayreuth cassou o título de doutor de Carlos-Teodoro Maria Nicolau João Jacó Francisco Felipe José Silvestre, Barão de Guttenberg, ministro da Defesa da Alemanha, por plágio em sua tese.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

PROCURANDO MARIDO NO FINANCIAL TIMES

A moça, fazendo as vezes de maria-chuteira, maria-apostila, maria-lattes etc., mas muito mais ambiciosa que elas todas, foi clara e revelou seu lado escuro. O rapaz respondeu no mesmo nível. As duas mensagens saíram no Financial Times, referência de publicação financeira no mundo). No e-mail, a moça pede dicas sobre "como arrumar um marido rico". Contudo, mais inacreditável que o "pedido" da moça, foi a disposição de um rapaz que, muito inspirado, respondeu à mensagem, de forma muito bem fundamentada. E-mail da MOÇA: "Sou uma garota linda (maravilhosamente linda) de 25 anos. Sou bem articulada e tenho classe. Estou querendo me casar com alguém que ganhe no mínimo meio milhão de dólares por ano. Tem algum homem que ganhe 500 mil ou mais neste jornal, ou alguma mulher casada com alguém que ganhe isso e que possa me dar algumas dicas? Já namorei homens que ganham por volta de 200 a 250 mil, mas não consigo passar disso. E 250 mil por ano não vão me fazer morar em Central Park West. Conheço uma mulher (da minha aula de ioga) que casou com um banqueiro e vive em Tribeca! E ela não é tão bonita quanto eu, nem é inteligente. Então, o que ela fez que eu não fiz? Qual a estratégia correta? Como eu chego ao nível dela? (Raphaella S.)" E-mail do rapaz: "Li sua consulta com grande interesse, pensei cuidadosamente no seu caso e fiz uma análise da situação. Primeiramente, eu ganho mais de 500 mil por ano. Portanto, não estou tomando o seu tempo a toa... Isto posto, considero os fatos da seguinte forma: Visto da perspectiva de um homem como eu (que tenho os requisitos que você procura), o que você oferece é simplesmente um péssimo negócio. Eis o porquê: deixando as firulas de lado, o que você sugere é uma negociação simples, proposta clara, sem entrelinhas : Você entra com sua beleza física e eu entro com o dinheiro. Mas tem um problema. Com toda certeza, com o tempo a sua beleza vai diminuir e um dia acabar, ao contrário do meu dinheiro que, com o tempo, continuará aumentando. Assim, em termos econômicos, você é um ativo sofrendo depreciação e eu sou um ativo rendendo dividendos. E você não somente sofre depreciação, mas sofre uma depreciação progressiva, ou seja, sempre aumenta! Explicando, você tem 25 anos hoje e deve continuar linda pelos próximos 5 ou 10 anos, mas sempre um pouco menos a cada ano. E no futuro, quando você se comparar com uma foto de hoje, verá que virou um caco. Isto é, hoje você está em 'alta', na época ideal de ser vendida, mas não de ser comprada. Usando o linguajar de Wall Street , quem a tiver hoje deve mantê-la como 'trading position' (posição para comercializar) e não como 'buy and hold' (compre e retenha), que é para o quê você se oferece... Portanto, ainda em termos comerciais, casar (que é um 'buy and hold') com você não é um bom negócio a médio/longo prazo! Mas alugá-la, sim! Assim, em termos sociais, um negócio razoável a se cogitar é namorar. Cogitar...Mas, já cogitando, e para certificar-me do quão 'articulada, com classe e maravilhosamente linda' seja você, eu, na condição de provável futuro locatário dessa 'máquina', quero tão somente o que é de praxe: fazer um 'test drive' antes de fechar o negócio...podemos marcar?"

sábado, 23 de fevereiro de 2013

DIFERENÇAS ASSOMBRAM ACORDO ORTOGRÁFICO

http://revistalingua.uol.com.br/textos/80/diferencas-assombram-acordo-260770-1.asp Embora controverso, pela pressa com que foi feito e pelo limitado número de consultores, o acordo ortográfico segue o velho provérbio latino: os costumes são os melhores intérpretes das leis. A língua portuguesa é hoje a sétima ou talvez a sexta mais falada no mundo, atrás do mandarim, do hindi, do inglês, do russo, do árabe e do espanhol. Mas não se fala o português do mesmo modo nos lugares em que é a língua oficial. Todavia o acordo ortográfico, como ocorreu com o árabe, forçou uma padronização no modo de escrever. O árabe é falado em mais de 20 países de maneiras diferentes, mas todos os que escrevem em árabe escrevem do mesmo modo. Coube aos brasileiros a liderança no processo de padronização mundial do português, mas ainda devemos a simplificação no modo de escrever. A ortografia é pouco mais do que uma convenção. Em muitas palavras predominou a etimologia na hora de escrevê-las, mas em muitos casos essa providência não é recomendável, sendo mesmo desaconselhável e em alguns outros até impossível. O modo de escrever a língua portuguesa está sendo simplificado no Terceiro Milênio. É uma providência tardia. Muitas outras línguas simplificaram suas respectivas ortografias ainda no século 19. Contudo, o Brasil comete quase sempre um duplo erro. Demora a tomar uma providência e quando o faz deixa entrevisto que a demora não serviu para nada. Nem para pensar sobre conveniências, inconveniências, modos de aplicá-la, etc. Sutilezas O acordo ortográfico tornara-se uma necessidade. Mas por que tanta pressa? Muitos problemas decorrentes das mudanças poderiam ter sido evitados, se mais e mais diversificados usuários da língua escrita tivessem sido consultados. Não o foram. A consulta foi obra de pequeno grupo de iluminados, todos com obra lexicográfica de referência. Ainda assim eles não foram o problema. Ao contrário, foram parte da solução. O problema foi que só eles foram consultados. Aliás, a nação decisiva para a implantação do acordo ortográfico foi São Tomé e Príncipe, com área de 1.001 km² e população de apenas 170.000 habitantes. No Brasil, seria uma cidade de médio porte. Complexas sutilezas ainda separam o português do Brasil do de Portugal e das nações africanas de língua portuguesa. Um exemplo recente é "kuduro", dança e música surgidas em Angola, já chegadas ao Brasil, assim designadas por força do meneio que mantém firmes as nádegas e os quadris. Aqui ainda não decidimos como grafar. Provavelmente terá a troca de k por c. Na África portuguesa, como em Portugal, "kuduro" pode ser palavra canônica, mas no Brasil cheira a palavrão. Deonísio da Silva é escritor, doutor em letras pela USP, vice-reitor da Universidade Estácio de Sá (RJ), membro da Academia Brasileira de Filologia e autor de, entre outros, Lotte & Zweig

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O REI DA COCADA PRETA E A MÃE DE SÃO PEDRO

Se tudo deu certo – escrevo esta crônica na sexta-feira – ontem, sábado, falei de Palavras de Direito , em Ribeirão Preto, a convite do Dr. Paulo Scanavez, Juiz em São Carlos e coordenador da Escola Paulista de Magistratura na região. Lançado este mês pela Editora Novo Século, o livro já vendeu dois mil exemplares. Seu tema é a etimologia de palavras muito usadas no Direito. A etimologia nos ensina que os pontífices, originalmente construtores de pontes, vieram a abençoá-las apenas, e o mais importante deles virou Sumo Pontífice. Com o advento do cristianismo veio a designar o Papa. Um molusco chamado purpura, em Latim, tinha que ser obtido em grande quantidade para, espremido, tingir as roupas de uma cor avermelhada. Apenas ricos e poderosos podiam caçá-lo. Resultado: a cor púrpura tornou-se a veste oficial de cardeais, reis, príncipes etc. As primeiras piscinas foram construídas para criar peixes em casa, em clubes, em outros estabelecimentos. Piscina veio do Latim piscis, peixe. O desaforo não podia ser levado para casa e era resolvido fora do foro, o Latim forum, praça do comércio onde os magistrados julgavam as demandas. Salário, do Latim salarium, pagamento feito em sal, continua amargando a vida do trabalhador, mas é difícil avaliar o honorário, do latim honorarium, originalmente um presente dado em honra do profissional que nos atendeu. Almirante é do mesmo étimo de emir, do Árabe al-mir, e designava o chefe do povoado, de alguma repartição. Tornou-se o mais alto posto da Marinha. Armário veio do Latim armarium, móvel para guardar armas, mas hoje ali são guardadas outras coisas, não mais armas. E quando alguém sai do armário, está revelando outra opção sexual, que antes escondia. Os índios Camba que moravam nos arredores de Corumbá se comportavam mal e passaram a ser referidos como uma cambada, pejorativo. Canja veio do Malaiala kanji, arroz com água, mas no Português veio a designar caldo de carne de galinha com arroz. Quando a Família Real veio para o Brasil, em 1809, o rei tinha o privilégio de comer as primeiras cocadas pretas e só depois os nobres podiam servir-se. O brasileiro, muito debochado, passou a usar a frase para vingar a arrogância de que quem queria sobrepor-se aos outros, como se rei fosse, criando a expressão rei ou rainha da cocada preta. A expressão “essa aí é pior do que a mãe de São Pedro” baseia-se numa lenda. A mãe de São Pedro vive equidistante entre o Céu e o Inferno. É a única ali. As outras almas estão no Céu, no Inferno, no Purgatório ou no Limbo, mas ela nem cai, nem sobe. Personagem de um conto europeu muito popular trazido pelos portugueses para o Brasil, ela é condenada ao Inferno, mas São Pedro consegue de Jesus que ela suba ao Céu por um talo de cebola que ela perdera num ralo. Quando está subindo, outras almas se agarram nela e a ranzinza senhora começa a chutá-las com tanta violência que o talo se rompe. Não voltou para o Inferno, mas também não pôde subir ao Céu. Que fascinante a viagem das palavras! (xx) · Escritor e professor, Doutor em Letras pela USP, autor de 34 livros.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

BELOS POEMAS DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

“Amar o perdido / deixa confundido / este coração. // Nada pode o olvido / contra o sem sentido / apelo do Não. // As coisas tangíveis / tornam-se insensíveis / à palma da mão. // Mas as coisas findas, / muito mais que lindas, / essas ficarão”. A CASTIDADE COM QUE ABRIA AS COXAS A castidade com que abria as coxas e reluzia a sua flora brava. Na mansuetude das ovelhas mochas, e tão estreita, como se alargava. Ah, coito, coito, morte de tão vida, sepultura na grama, sem dizeres. Em minha ardente substância esvaída, eu não era ninguém e era mil seres em mim ressuscitados. Era Adão, primeiro gesto nu ante a primeira negritude de corpo feminino. Roupa e tempo jaziam pelo chão. E nem restava mais o mundo, à beira dessa moita orvalhada, nem destino.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

PLÁGIO: REFLEXÃOZINHA DE FIM DE DOMINGO

Acabou-se o direito do autor? Vivemos o império do plágio? Um dia chego à Livraria Argumento, na Barra da Tijuca, estão vendendo um livro de frases célebres. TODAS ELAS EXPLICADINHAS, COMO NO MEU LIVRO "A VIDA ÍNTIMA DAS FRASES" . Avisei o editor, uma pessoa correta, o Ari Roitman, ele retirou o livro de circulação. E o autor, que o enganou, o que foi feito dele? Ignoro! Isso aconteceu em 2005! Agora foram meus artigos sobre a renúncia do Papa e a lenda da papisa Joana. Antes de mim, vários erraram o século em que viveram, o número e o nome dos renunciantes. De repente, todos acertam. Pesquisar dá trabalho! "Lavorare stanca", como dizia o poeta Cesare Pavese. A internet, que virou um rio, como me dizia hoje pela manhã o meu amigo de longas décadas, o Cláudio Moreno-Novo, um consultor seguro para questões de Português, principalmente, e Grécia antiga: o sujeito vai lá, pega um balde d´água, traz pros outros e diz que tirou toda aquela água do poço que ele não cavou! E o que circula de textos atribuídos a outros, que jamais os escreveram, tamanho é o besteirol! Lembro três das vítimas mais óbvias: Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu e Luís Fernando Veríssimo. Conheci os dois já falecidos, conheço LFV, conheço a obra dos três, apresentei trabalhos sobre os três. Nenhum deles escreveu vários textos que lhes são atribuídos. Aonde vamos parar?

ETIMOLOGIA DE BENIGNO, DISENTERIA, HOMEOPATIA, JÚBILO ETC

Benigno: do Latim benignus, cujo sentido literal é de bonus genus, bom gênio, adjetivo usado para caracterizar a pessoa de boa índole, de convívio agradável. Seu antônimo, Maligno (com inicial maiúscula), é um dos nomes do Demônio. Aparece em Medicina para caracterizar tumor ou doença que não são fatais, que pouco afetam a qualidade de vida do paciente, cujos desfechos, ao contrário dos malignos, poderão ser favoráveis. Benigno e Benigna são também nomes de pessoas. Há várias santas chamadas Benigna e 18 santos com o nome de Benigno. Um deles viveu no século IV e foi martirizado em Todi, na Itália. É festejado em 13 de fevereiro. Disenteria: do Grego dysentería pelo Latim dysenteria, cujo sentido literal é intestino (enteron) difícil (dys). Designa doença com lesões inflamatórias no intestino e evacuação dolorosa, cujos agentes são micróbios ou protozoários. Pode ser bacilar ou amebiana e a causa mais frequente é a ingestão de água, leite e alimentos contaminados por moscas. O escritor inglês Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), para combater uma disenteria, tomou um pouco de ópio. Dormindo, sonhou com um belo poema, entretanto inacabado por ter sido interrompido por um homem da localidade inglesa de Porlock, fazendo surgir a expressão “homem de Porlock” para designar no Inglês a pessoa inoportuna. O rei Henrique V (1387-1422), personagem solar da peça homônima do dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), liderava soldados atacados por disenteria quando os conclamou, com um discurso inflamado, a vencer a doença e os franceses: “Nós, estes poucos; nós, um punhado de sortudos; nós, um bando de irmãos. Pois quem hoje derrama o seu sangue junto comigo passa a ser meu irmão. Pode ser homem de condição humilde; o dia de hoje fará dele um nobre.” Homeopatia: do Alemão Homöopathie, a partir do Grego homoiopátheia, pelo Francês homeopathie. Designa vertente da Medicina que consiste em ministrar aos enfermos doses muito pequenas de substância semelhante à da doença a combater. Os compostos gregos homoios, semelhante, e pathos, doença, estão presentes na formação da palavra. O método revolucionário para a época, quando dominava a alopatia, em fins do século XVIII, foi inventado pelo médico alemão Samuel Hahnemann (1755-1843). É o mesmo princípio da vacina, à base do conceito da expressão em Latim similia similibus curantur (os semelhantes curam os semelhantes). Júbilo: do Latim jubilum, gritos ou exclamações de alegria, por influência do Hebraico yobel, chifre usado como corneta para anunciar festa especial, celebrada de 50 em 50 anos, pelo Grego iobelaíos, ao Latim jubilaeus. O verbo jubilar, do Latim jubilare, tomou porém três significados: alegrar-se, ser aposentado por merecimento ou antiguidade e perder o direito à matrícula em universidades, por excesso de faltas ou muita demora em concluir o curso superior. Penar: de pena, do Latim poena, castigo, punição, entendendo-se sofrer. Os romanos adaptaram o Grego poiné, expiação de um homicídio. O dicionário Aulete registra que, além de verbo com vários significados, entre os quais padecer sofrimentos, purgar pecados e causar dor, penar é também substantivo, como nestes versos do cantor e compositor brasileiro Chico Buarque (68) na canção Apesar de Você: “Você vai pagar e é dobrado / Cada lágrima rolada / Nesse meu penar”. Valente: do Latim valente, declinação de valens, forte, saudável, corajoso, antônimo de imbecellis, imbecil, fraco, e de infirmus, enfermo, doente, do mesmo étimo do verbo valere, ter saúde, ter valor, passar bem. Devido às complexas sutilezas de nossa língua, valentão é pejorativo, é o brigão, que vive em busca de conflitos. E imbecil ganhou o significado de tolo, medroso, ignorante. Valentim e Valentina, do mesmo étimo de valente, são nomes de pessoas. Há vários santos com esses nomes, sendo o mais conhecido São Valentim, padroeiro dos namorados, cujo dia nos Estados Unidos é conhecido como (Saint)Valentine’s Day, celebrado a 14 de fevereiro.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A LENDA DA PAPISA JOANA (papa João VII)

A papisa Joana teria reinado no século IX, sob o nome de João VII. A lenda surge na Europa, por volta do ano 850, e sua força foi tanta que, numa linhagem exclusivamente masculina, gerou na língua portuguesa o feminino papisa, do Latim tardio papissa, em homologia com rei/rainha, imperador/imperatriz, príncipe/princesa etc. Filha de um cônego inglês, Joana nasceu em Mainz, na Alemanha, em 1814. Como ler e escrever fossem atividades proibidas às mulheres, seu irmão Mateus a alfabetizou às escondidas. Quando o menino morreu, outro irmão de Joana, chamado João, confiou o segredo ao tutor e este aceitou ensinar a ambos o Latim e o Grego, sempre às escondidas. Ao ser transferido, o tutor prometeu a Joana que tudo faria para ajudá-la. E tempos depois chegou uma carta do bispo local pedindo ao cônego que enviasse Joana à sede da diocese. Ao chegar, Joana foi submetida a vários exames. Foi quando descobriu-se que era moça e não rapaz. Como tivesse demonstrado grande saber, o bispo autorizou que ela prosseguisse os estudos. Mas havia o problema do alojamento, habitado apenas por rapazes. Então um conde ruivo chamado Geraldo, muito influente junto ao bispo, consegue autorização para Joana morar na casa dele. Todos os dias ela estuda junto com os rapazes, que a maltratam muito, e à noite vai dormir na casa do conde, de onde entretanto certa noite foge e procura o Mosteiro de Fulda. Seu desempenho nos estudos é extraordinário. O monge médico, gostando muito dela, que todos acham ser ele, ensina-lhe medicina. Em pouco tempo, Joana torna-se o melhor médico do convento e sua fama chega a Roma, ao tempo em que reinava o papa Leão IV. Os cardeais, vendo-o muito doente, chamam Joana para cuidar dele. Curado e agradecido, o Sumo Pontífice a nomeia cardeal. Quando Leão IV morre, os cardeais a elegem papa, e ela, sempre disfarçada de João, toma o nome de João VII. Mas o conde Geraldo, que era casado e amava Joana, ia a Roma muitas vezes para encontrá-la e acabou por engravidá-la. Joana iria dar à luz às escondidas, mas durante uma procissão passou mal e teve o menino no meio da multidão. Cardeais amigos logo proclamaram “milagre!”, levando-a de volta ao palácio, mas outras fontes dizem que mãe e criança foram apedrejadas até à morte. Há muitas outras controvérsias sobre Papas. Alguns historiadores contam 261 papas, outros 265, dois quais 215 tiveram morte natural, 6 foram assassinados, 4 morreram no exílio e 1 na prisão. Os maçons fazem outra conta, dividindo os papas entre intramuros e extramuros. A igreja é uma instituição machista e esta é uma das razões da lenda de uma papisa. E vejamos só que outra ironia! Quando o papa Bento XVI falou aos cardeais, havia jornalistas no recinto, mas apenas a correspondente italiana Giovana Chirri, por saber Latim, o entendeu. E deu o furo mundial, informando que o papa anunciara que iria renunciar. (xx) • escritor e professor, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

LEMBRANDO MARTINHO DA VILA

http://www.youtube.com/watch?v=Y9zEfDU6zoQ O Pequeno Burguês Martinho da Vila Felicidade! Passei no vestibular Mas a faculdade É particular Particular! Ela é particular Particular! Ela é particular... Livros tão caros Tanta taxa prá pagar Meu dinheiro muito raro Alguém teve que emprestar O meu dinheiro Alguém teve que emprestar O meu dinheiro Alguém teve que emprestar... Morei no subúrbio Andei de trem atrasado Do trabalho ia prá aula Sem jantar e bem cansado Mas lá em casa À meia-noite Tinha sempre a me esperar Um punhado de problemas E criança prá criar... Para criar! Só criança prá criar Para criar! Só criança prá criar... Mas felizmente Eu consegui me formar Mas da minha formatura Não cheguei participar Faltou dinheiro prá beca E também pro meu anel Nem o diretor careca Entregou o meu papel... O meu papel! Meu canudo de papel O meu papel! Meu canudo de papel... E depois de tantos anos Só decepções, desenganos Dizem que sou um burguês Muito privilegiado Mas burgueses são vocês Eu não passo De um pobre coitado E quem quiser ser como eu Vai ter é que penar um bocado Um bom bocado! Vai penar um bom bocado Um bom bocado! Vai penar um bom bocado Um bom bocado! Vai penar um bom bocado...

A PALAVRA PROPAGANDA FOI INVENTADA PELA IGREJA

A PALAVRA PROPAGANDA FOI INVENTADA PELA IGREJA. A PROPAGANDA É A ALMA DO NEGÓCIO, EXCETO PARA A IGREJA, CUJO NEGÓCIO É A PROPAGANDA DA ALMA. DE QUEM É ESTA FRASE? BOM, ME PEDIRAM A HISTÓRIA DA PALAVRA PROPAGANDA. AÍ VAI, ESTÁ EM MEU LIVRO "DE ONDE VÊM AS PALAVRAS" (16a EDIÇÃO, 1069 páginas, EDITORA NOVO SÉCULO), MAS COMPREM O BICHINHO, QUE VOCÊS NÃO VÃO SE ARREPENDER. P R O P A G A N DA: do latim propagandae fidei (da propaganda da fé), congregação do Vaticano encarregada de divulgar a fé católica em todo o mundo. Em latim, propagare é espalhar, aumentar, reproduzir. No horário eleitoral gratuito, no rádio e na televisão, os candidatos fazem propaganda de si mesmos, apresentando seus currículos e propostas.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

AGÊNCIA EFE ATUALIZA: 22 PAPAS RENUNCIARAM!

Pessoal, meu negócio é escrever. E ensinar a escrever! E ler, que é o que gosto mais de fazer! Ler com atenção em cada palavra, ainda mais em se tratando de um documento desta importância. Há um erro na declaração em Latim. Quem digitou, escreveu que ele vai deixar o Papado, "die 28 februarii MMXIII, hora 29". Não existe esta hora em Latim, só no Itaú 30 horas. Hora 29? Na pressa, alguém digitou o número 9, que está ao lado do 0, em todos os teclados. Mas por que a pressa? E por que não houve revisão do texto? Mistérios...Detalhes. Não devemos dar atenção a detalhes? Não quero ser pernóstico, mas o Papa não renunciou, como todos estão dizendo em manchetes. Ele anunciou que vai renunciar, com precisão germânica: às 20h do dia 28 de fevereiro. De resto, muitos outros erros e imprecisões. Afinal, seis papas renunciaram ( e se contarmos o papa Silvério, que alguns contam), sete papas renunciaram, oito com Bento XVI.. Não foi apenas Celestino V, que Dante Alighieri pôs no Inferno, no Canto III da Divina Comédia, que, aliás, era apenas Comédia, no título, mas Giovanni Boccacio gostava tanto do livro que passou a referir-se a ele, para seus alunos, sempre como "divina". Outros Papas que abdicaram: Eu tinha contado sete papas renunciantes. A Agência EFE contou diferentemente: 22 papas renunciaram até o presente ou foram obrigados a fazê-lo. Quem fez a nova contagem foi o professor de História da Igreja e cônego da catedral de Barcelona (Espanha) Josep María Martí Bonet. Ele diz que "na época antiga, se não considerarmos os muitos papas mártires, encontramos seis possíveis renúncias". São as de Ponciano (anos 230-235), que morreu no exílio e renunciou pelo bem da Igreja; Eusébio (ano 309); João I (523-526); Silvério (535-537), acusado de alta traição por Belisário; João III (561-574), e Martinho I (649-655), que renunciou para facilitar a eleição de um papa que não fosse problemática e morreu exilado na Crimeia. Segundo o trabalho histórico inédito, elaborado após a renúncia da anunciada na segunda-feira por Bento XVI, na época medieval foram obrigados a renunciar Constantino II (767); João VIII, ao qual tentaram envenenar; Estevão VI (896-897), que foi linchado e posteriormente estrangulado na prisão; e Leão V (903), que foi assassinado pela família romana dos tusculanos, os mesmos que mataram Cristóvão (o antipapa) no ano de 903. O papa João X (914-928) foi envenenado e assassinado pela matriarca romana Marózia, que também matou Estevão VII (929-931). O filho de Marózia, Alberico, assassinou sua mãe e também o papa João XI (931-935). O papa Bento V (964) foi obrigado a exilar-se em Hamburgo; Bento VI (973-974) foi assassinado no castelo de São Angelo de Roma, e Bonifácio VII (984) também teve que se exilar e foi assassinado. João XIV (983-984) morreu de fome no castelo de São Angelo; Bento IX (1033-1045) foi acusado de comprar o pontificado, e Gregório VI (1045-1046) foi deposto e exilado. Bento X (1058-1059) renunciou por próprio convencimento e se transformou em um simples cardeal; João XXI (1276-1277) morreu em um acidente em Viterbo, e Celestino V (1294) renunciou. O papa Gregório XII (1406-1414) foi o último a renunciar antes de Bento XVI (2005-2013), que comoveu o mundo católico com seu inesperado anúncio de que deixará o pontificado no dia 28 de fevereiro. Saíram erros também em diversas traduções do texto original, em Latim, em que ele anunciou que vai renunciar. Em Português, atribuíram-lhe que ele não tem "condições idôneas" para continuar. Isso, quem não tem é o Renan Calheiros. Ele acha que não tem as condições necessárias, como a saúde, por exemplo, pois tem andado muito cansado e doente. Palmas para a a jornalista Giovanna Chirri, a primeira a anunciar ao mundo que o Papa avisara aos cardeais que iria abdicar no dia 28 de fevereiro de 2013, às 20h. Jorrarão mistérios e especulações, como sempre. No mesmo documento, ele primeiramente canoniza três novos santos e depois trata da abdicação. Por que fez as duas declarações num documento só? Os cardeais foram convocados para o consistório (reunião habitual dos cardeais, feita todos os anos com o Papa)e a pauta, que tinha a canonização dos três santos, não tinha o tema da abdicação, que foi incluído depois. (xx)

domingo, 10 de fevereiro de 2013

RUA QUINZE DE NOVEMBRO, SEM NÚMERO.

1. Na agência de turismo Li num almanaque que o primeiro agente de viagens foi Thomas Cook. Em 1841 fretou um trem para levar um grande número de pessoas que iam participar de um congresso de ex-alcoólatras na Inglaterra. E uma viagem de ex-revolucionários? Quantos trens seriam necessários hoje? Agora há uma agência de turismo em cada esquina. Pois bem! Voltei de uma delas gora há pouco. Comprei bilhete para Montevidéu, estadia por um fim de semana, com traslado do aeroporto para o estábulo, digo, para o hotel, incluindo ração, digo, alimentação, não morrer de sede, isto é, água, enfim esses itens todos que, reunidos, são designados por pacote. "Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável e ganho quatro mil cruzeiros por mês" como Raul Seixas cantava quando eu era clandestino político, não tinha um Corcel 73, era um fusca azul 68, e namorava uma polaca de Curitiba de coxas fosforescentes, cobertas por meias sete oitavos, emendadas lá em cima, quase à altura dos seios, acho, com umas tiras muito sensuais chamadas ligas. Comia pastel em lanchonetes de terceira categoria, mas saudáveis. E a dona da pensão vivia repetindo a quem me olhava com desconfiança: “Ele é pobre, mas é limpinho.” Eu era pobre, mas era soberbo. Entrava naquelas lanchonetes com a minha noiva, loura esfuziante, e todos me invejavam, a mim, um magricelo, ao lado daquela miss tudo, bonita e gostosa, como diziam os meus colegas de universidade. 2. Meus passados Tinha sido seminarista por longos anos, não tinha namorado ninguém, nem sequer um menino, como fizeram alguns colegas meus, e jamais tinha comido pastel em lanchonetes desarrumadas, sem menino ou com menino, onde todos podiam comer quando quisessem, em geral comidas gordurosas, com toucinho, capim e sebo, mas aos vinte anos quem se importa com isso? No seminário, não. Havia disciplina, ordem e boa alimentação, convívio agradável, as refeições eram feitas na companhia de colegas, as mesas sendo organizadas de quatro a quatro, isto é, mesas quadradas, cada um no seu quadrado, quatro meninos por mesa, garantindo que a refeição era feita segundo a máxima corpore sano em mente sana, bordão sempre reiterado pelo padre Walz, que dançou uma valsa meio atropelada, pois o bispo descobriu que ele tinha um caso com a empregada de antiga Casa Paroquial, em seu posto anterior, onde tinha sido vigário, num lugar retirado, lá para as bandas dos morros azuis. Isso não era o mais grave, alguns padres acabavam rompendo o voto de castidade, sobretudo por ouvirem em confissões mulheres infiéis, que logo eram infiéis também com alguns confessores. 3. O filho do padre O problema tinha sido outro. Padre Waltz criara o menino, colocara o rebento no seminário, ele já era clérigo, sem saber quem era seu pai, só conhecia a mãe, e ia ser ordenado padre também quando o bispo diocesano chamou o padre Waltz e perguntou para confirmar: “O menino, o Répobro, não sei por que foram dar este nome para a criança, é seu filho, não é?”. O senhor bispo era tolerante. Queria apenas resolver os problemas do modo menos doloroso possível. Padre Waltz sabia disso e foi com certa melancolia que disse: “Eminência, o senhor sabe, esse menino chama-se Répobro porque este era o nome original de São Cristóvão, que trabalhava às margens dos rios, transportando as pessoas nos ombros, como não ignoramos!”. “Sei, sei”, disse o bispo. “O povo, graças a nós, ignora muita coisa e, igualmente graças a nós, sabe de outras tantas. Quando os cruzados chegaram à Palestina se decepcionaram com a pequenez do rio Jordão. Estavam acostumados à grandeza dos rios Danúbio, Reno, Sena e outros, e deram de cara com um riacho chamado Jordão, que eles imaginavam maior e mais importante do que o Nilo ou o Amazonas.” Pigarreou um pouco e completou: “Mas, me diga, padre Waltz, Répobro Cristóvão é seu filho, então?”. “Tu o disseste. Ele o é”, disse padre Waltz, que já tinha chegado às oito dezenas. “Eu não disse, eu perguntei”, disse o Bispo. “Perguntou afirmando”, disse padre Waltz. 4. Então, não pode “Pois é”, disse o bispo, “então não vou ordená-lo sacerdote e avisarei aos colegas, para o caso de o senhor, ardiloso como é, recorrer de minha decisão. Vou avisar também o Núncio”. “Ardiloso, eu? “ , exclamou padre Waltz. “Sim, pois se seduziu uma menina de dezesseis anos quando tinha mais de sessenta”. “O senhor, bem se vê, não entende de mulher para dizer que um celibatário de sessenta e poucos anos seduz uma mulher de dezesseis!”. “Mulher?”, disse o bispo, “mulher? Ela era uma menina!” “Senhor bispo, toda adolescente, tão logo exale as primeiras fragrâncias, lançando no ar seus poderosos feromônios para despertar os machos das redondezas, é uma mulher! Nada lhe falta para ser uma mulher completa!”. “Falta, sim, falta a idade”, disse o bispo, desconcertado com o ar libidinoso com que o padre falara daqueles pecados vindos da mulher, “e é melhor o senhor ir moderando a linguagem porque pode piorar a sua situação se eu acrescentar em meu relatório que o senhor é pedófilo assumido.” “Senhor bispo! O senhor está caindo nas malhas do populacho que vê pecado em tudo. O cristianismo, a nossa religião, é dileta filha do judaísmo, onde a maioridade da menina dá-se aos doze anos, e para os meninos aos treze. Esqueceu-se da Bat Mitzvah para as garotas e da Bar Mitzvah para os garotos?” O bispo olhou pela janela. Levantou-se. E, com ar paternal, pondo as mãos sobre os ombros de padre Waltz, disse: “Tutankamon casou-se aos dez anos. A noiva era da idade dele. Mas hoje não é mais assim e não estamos no antigo Egito! Também não estamos tratando de casamentos reais!”. “Eu compreendo”, disse padre Waltz. “Mas lembro que no Brasil, já que o senhor se apega a procedimentos jurídicos, relação sexual com menina com mais de 14 anos não é mais pedofilia.” “De todo modo, não vou ordenar sacerdote a seu filho padre. Ele não será padre.” 5. Fecho e Desfecho Nunca mais vi ou ouvi o padre Waltz. Muitos anos depois soube que seu filho morrera em acidente de trânsito e que inclusive um escritor, também ele ex-seminarista, tinha colocado isso num romance. Padre Waltz morreu, disseram que de profundo desgosto, algum temo depois. Tornei-me clandestino num projeto que formava comunidades eclesiais de base, mas a verdadeira intenção era preparar o povo para a Revolução! Lembro da última reunião quer tivemos com nosso chefe, já com tarefas bem fixadas. O chefe disse, apontando para mim: “Você é o responsável por Montevidéu.” Na hora nem me dei conta de que, a partir da semana entrante, eu seria o responsável por Montevidéu. E eu ainda não conhecia a cidade, a metrópole ou, como dizia nosso chefe, a megalópole. Fomos todos presos no dia seguinte e eu não cheguei a controlar Montevidéu! Estava pensando nesses meus passados, minha memória brotando sem parar, agora na volta da agência de viagens. Irei pela primeira vez a Montevidéu, a cidade que um dia ia ser minha! Agora classe C também viaja de avião. Na última vez, indo para Buenos Aires, um casalzinho sentou-se a meu lado no avião. A gordinha era atendente de telemarketing numa empresa. Ele fazia consertos em internet sem fio. Novas profissões, novas viagens. E novos passageiros. Menos eu, que fui, sou e serei sempre o mesmo. A gordinha sorriu para mim, pareceu a primeira mulher que eu tive na vida que, depois de ler uma fotonovela em que certa mocinha dizia ao namorado, “possua-me, possua-me”, resolveu me possuir, isto é, o contrário, que eu a possuísse. Ela estava realmente possuída. Gritava feito louca naquele hotelzinho de segunda categoria numa rua perto da rodoviária de Curitiba. Era o único que eu podia pagar. Essa gordinha, não. Era uma donzela em estado puro, só tinha olhos e atenção para o marido, recém-casados que eram. Estavam em viagem de lua de mel para Buenos Aires! No ônibus para a casa, vim lendo o jornal. Faleceu o bispo que um dia se recusara, sem necessidade, a ordenar padre o filho do padre. Padeceu de longa enfermidade e morreu ateu, mas disso eu vim a saber no romance de um escritor que muito aprecio. Agora já estou em casa. Peguei o contrato, são dez prestações no cartão de crédito, incluindo traslado para o aeroporto, o café da manhã e uma refeição por dia. Não sou mais um revolucionário, não espero mais Revolução alguma, não irei mais a Montevidéu a trabalho. Agora vou a passeio. Um dos maiores revolucionários de Montevidéu, um ex-guerrilheiro tupamaro, é o atual presidente do Uruguai. Na agência a moça fez o cadastro. Preenchi meu nome (“com letra legível, viu?”) e quase plagiei Groucho Marx que um dia escreveu numa ficha de hotel: “nascido: sim; sexo: uma vez por semana”. No endereço, escrevi Rua Quinze de Novembro, sem número. E ela, ao revisar: “sem número?”. E eu: eu moro num depósito de livro, o prédio não tem número! A lanchonete que eu frequento também não tem número. Ela disse “vou indicar um número qualquer porque você deu de endereço para correspondência a caixa postal.” Comprei o pacote de Montevidéu sem entrada. A primeira prestação só vencerá depois de eu voltar. A cidade de dois milhões de habitantes será minha por um fim de semana. Ela se chama assim porque um escrivão que acompanhava Fernando de Magalhães na viagem ao redor da Terra, ao passar por aquela região cheia de montes, escreveu, quando se aproximava da povoação, “MONTE VI, D E O”: era o sexto monte que ele avistava, indo de Leste a Oeste. Estou pensando que, com tanta gente viajando, Seria melhor eu ser agente de viagens. Fretaria veículos no atacado para levar ex-revolucionários a algum lugar do passado. Eu mesmo seria passageiro. Aliás, passageiros somos todos nós. (fim) º O escritor e professor DEONÍSIO DA SILVA, Doutor em Letras pela USP, é autor de 34 livros entre romances, contos e ensaios. Seus livros são publicados no Brasil pelas editoras Leya e Novo Século. Os títulos referenciais são o romance “Avante, soldados: para trás” (10ª edição) e “De onde vêm as palavras” (16ª edição, 1069 páginas). Seu romance mais recente é “Lotte & Zweig”. Assina a coluna de ETIMOLOGIA na revista CARAS e apresenta o programa SEM PAPAS NA LÍNGUA, na Rádio Bandeirantes, com Ricardo Boechat. É Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio, e Diretor da TV Estácio. (xx)

sábado, 9 de fevereiro de 2013

OBOÉ: QUEM APRECIA, OUÇA, COM DIREÇÃO DE ENNIO MORRICONE

http://www.youtube.com/watch?v=PygPri0-LNA

CARNAVAL, FESTA DE INCLUSÃO SOCIAL

Todas as sociedades sempre festejavam alguma coisa: a colheita, o nascimento de animais, os casamentos, o nascimento dos filhos etc. Os primeiros carnavais, ainda sem este nome, foram realizados entre os anos 600 e 520 a.C. na Grécia antiga, de onde foram trazidos para Roma e adaptados ou mesclados aos festejos pagãos. Palavras como “sol”, “estrela”, “céu”, ”riqueza” e “felicidade” estiveram naqueles cantos antigos e chegaram aos sambas-enredos, depois de uma longa viagem, repleta de escalas em muitas nações, que tinham culturas diferenciadas e complexas formas de organização. Nas duas culturas que mais influenciaram a nossa, a grega e a latina, as festas carnavalescas davam destaque nas homenagens aos deuses da fertilidade e da produção. Na Roma antiga, Saturno, deus da agricultura; Baco, deus das vinhas, do vinho, da sensualidade; Ceres, deusa das flores e dos trigais: o étimo de seu nome ainda hoje permanece na palavra cereal. E, entre outros, Príapo, deus da fertilidade humana, pois o falo, tal como representado em Príapo, era indispensável à procriação. A coisa mais parecida com o atual Carnaval, na Roma antiga, eram as saturnais. Tribunais, escolas, fóruns e outras instituições públicas fechavam as portas. O povo dançava alegremente ao lado de um barco que desfilava sobre rodas pelas ruas, o carrus navalis. Desfilar é sair da fila, destacar-se dentre os demais. A Igreja pôs-se a organizar todas as festas pagãs, no século IV, depois que o Cristianismo foi aceito como religião oficial, disciplinando-as e por vezes deslocando-as, de acordo com os interesses dos novos donos do poder, agora associados ao poder imperial. O Carnaval foi uma das festas deslocadas. Realizado entre 17 e 23 de Dezembro, veio a ter lugar à entrada da quaresma, separado da festa do deus Solis Invictus, o Sol Invicto, que por sua vez foi substituída pelo Natal. Os festejos autorizados pela Santa Sé eram realizados à entrada da quaresma e em algumas culturas, como na luso-brasileira, tiveram originalmente a variante de entrudo, do latim introitus, entrada. Isto é, entrada da quaresma. No primeiro Carnaval autorizado pelo Papa, proliferaram as alegorias, as comparações, as corridas de corcundas e de anões, os atos de jogar farinha e ovos uns nos outros etc., que perduraram por séculos! A sátira também teve seu lugar. Rainhas, princesas e outras autoridades eram representadas por célebres beldades, como as prostitutas mais conhecidas e devidamente disfarçadas no meio de mulheres virtuosas, sem excluir os bobos da corte, também misturados a outros bobos, tratados como reis nos desfiles. O Brasil faz o maior carnaval do mundo, e o Carnaval do Rio de Janeiro é anunciado como o maior espetáculo da Terra. Vemos também algumas influências do carnaval italiano de Veneza, principalmente com os seus bailes de máscaras, que escondiam a identidade das pessoas, que assim podiam ser o que quisessem. Não podemos esquecer que pessoa veio do latim persona e quer dizer justamente máscara. O carnaval brasileiro deve muito à Família Real portuguesa que para cá veio em 1809. O povo adorava a monarquia e nos desfiles homenageava tanto os deuses pagãos, incluindo o rei Momo, como rainhas e princesas, misturando-os a divindades de diversas culturas. A grande marca do carnaval é a inclusão social. Só fica de fora quem quiser. Todos estão convidados a festejar. Durante três dias (que no Brasil são cinco, pois as festas vão de sexta a Quarta-feira de Cinzas), o rico e o pobre, patrões e empregados, feios e bonitos, todos comportam-se como se fossem iguais. Os meses que antecedem o Carnaval são de dieta para milhares de pessoas. Inverte-se o preceito: a abstinência precede o Carnaval! As lipos também. Na Quarta-feira de Cinzas, volta a realidade, que somente será abolida no próximo Carnaval. Se os leitores são ateus ou religiosos, isto não vem ao caso, pois só alguém sem cultura nenhuma deixaria de reconhecer que a civilização ocidental, para o bem ou para o mal, é herdeira de outras mais antigas, como a egípcia e a greco-romana, mas é principalmente judaico-cristã, e essas duas últimas estão presentes, explicita ou implicitamente, em usos, costumes, cerimônias, festejos, efemérides e, principalmente, nas palavras que proferimos ou calamos. • Escritor, professor e vice-reitor da Universidade Estácio de Sá.

EMBALAGENS: VIEMOS NUMA PLACENTA, VOLTAREMOS NUM CAIXÃO

Em ‘A placenta e o caixão’, livro de crônicas originalmente publicadas em jornais e revistas, Deonísio da Silva reafirma a definição do crítico. Tratando dos mais diversos temas, faz de uma notícia, de certa lembrança, do fato que passa despercebido à maioria ou de um mero hífen o mote para o texto que, apesar de breve, está acima da banalidade do cotidiano. Deonísio critica o conformismo inoculado, como um vírus, nos intelectuais brasileiros, fere de morte os burocratas, mostra-se ótimo leitor da ficção contemporânea brasileira e não teme falar de seus pares ou expor suas preferências.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

OPUS DEI CENSURA AUTORES PORTUGUESES

A OPUS DEI fez uma lista de livros proibidos, entre os quais vários do Prêmio Nobel José Saramago (que presidiu a comissão julgadora de um concurso que me deu o Prêmio Internacional Casa de las Américas), e um da autoria de minha querida amiga Teolinda Gersão. Bem, mas eu tenho mais motivos para execrar esta lista: minha tese de doutoramento na USP, Nos Bastidores da Censura, ocupou-se dos 508 livros proibidos no Brasil no período pós-1964. E ACIMA DE TODOS ESSES MOTIVOS, UM QUE DIZ RESPEITO A TODOS NÓS: DEFENDER A LIBERDADE. Abaixo, o Index da Opus Dei, que transcrevi de Maria Ribeiro. http://4.bp.blogspot.com/-RRMPipDjMSE/UQaq86nsKPI/AAAAAAAAbB4/zVt3A-RWZY4/s1600/002+(3).jpg 4.bp.blogspot.com

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ETIMOLOGIA DE AVE, COALHO, INFANTE, QUEIJO, PERU, SORO

Ave: como saudação, procede do Latim ave, redução do antigo avete, imperativo do verbo avere, saudar. Designando animal vertebrado que põe ovos e tem os membros anteriores modificados em asas e o corpo coberto de penas, procede do Latim ave, declinação de aves, classe dividida em oito ordens: palmípedes, rapaces, galináceos, pombos, pernaltas, trepadores, pássaros e corredores. Pássaro é uma das ordens das aves, mas não é ave. É uma definição complexa. Por exemplo, o pombo tem ordem própria, e o peru, o papagaio e o pica-pau não são pássaros. O peru é ave, os outros dois são trepadores. Coalho: do Latim coagulum, coágulo. O modo como era pronunciado popularmente resultou em coalho, substância líquida coagulada utilizada no fabrico do queijo, um alimento muito antigo. Homero (século VIII a.C.) descreve Cíclope fabricando queijos: “Quando ele terminou, sentou-se e ordenhou suas ovelhas e cabras, tudo em seu devido tempo e, em seguida, levou cada uma delas para junto de suas crias. Ele coalhou metade do leite e colocou-o de lado em peneiras de vime.” Infante: do latim infante, aquele que ainda não fala, designando a criança. Também o soldado a pé foi nomeado infante, donde infantaria. Indicou originalmente o criado do soldado a cavalo, encarregado de cuidar de suas armas e montarias. Os filhos dos reis de Portugal e da Espanha, excluídos da sucessão, são chamados de infantes. A infanta e o infante não são herdeiros do trono, mas houve uma exceção: o último rei de Portugal foi o infante dom Manuel II (1889-1932). Seu pai, o rei Carlos I (1863-1908), e seu irmão, o príncipe Luís Felipe (1887-1908), foram assassinados no dia 1º de fevereiro. A tragédia acelerou a proclamação da República, em 1810. O infante e sua mãe, a última rainha de Portugal, Maria Amélia Luísa Helena de Orleães (1865-1951), sobreviveram ao atentado. Peru: provavelmente do dialeto hindustâni peru, nome da ave, ou do quíchua ou do aimará piruw, mesclado ao nome do país de onde se acreditava que era originária, pois se supunha que as aves enviadas a Portugal fossem embarcadas no Peru, país que tem registros da presença humana há 10500 a.C. Mas o nome do país, de origem controversa, deve-se à forma como era ouvida e pronunciada a palavra Beru, dita também Biru ou Pelu, designando rio, região e também um cacique. É controversa a procedência da ave, que pode ter vindo da Ásia para o México e dali para outros países americanos. O peru, semelhante ao pavão em sua vaidade, chama-se pavo em Espanhol. E o Português pavão veio do Latim pavonis, declinação de pavo. O Italiano usou o grito da ave para designá-la, tacchino, da onomatopeia tacco, que os brasileiros designam gluglu. O Francês chama a perua de dinde, redução de d’Inde, da Índia, e o peru de dindon. Os ingleses achavam que a ave era embarcada na Turquia, Turkey em Inglês, e a denominaram com turkey. Pela aparência do pescoço da ave, em parte depenado, designa também o pênis. Queijo: do Latim caesus pelo Espanhol queso. Passou a ser pronunciado caijo, antes de consolidar-se como queijo. O étimo latino não está presente apenas nas línguas neolatinas. Em Inglês é cheese e em Alemão, Käse. No Italiano formaggio, a designação é feita pela forma, o Latim vulgar formaticum e não o Latim clássico caesus, por influência da expressão caesus formaticus, queijo moldado, levado pelo Exército romano para alimentar suas legiões. O mesmo étimo está no Francês fromage. Feito de leite de cabra, de ovelha, de vaca e de búfala, provavelmente oalimento foi inventado há cerca de 5500 a.C., pois em escavações nos arredores de Kuyavia, na Polônia, arqueólogos descobriram 34 potes de cerâmica cujos furos serviam para fazer o soro do leite escorrer. Soro: do Latim sorum, alteração de serum, líquido amarelo-claro que se separa da parte sólida do leite quando este coalha na fabricação do queijo. Chamase soro também o líquido empregado com finalidade profilática ou terapêutica nos hospitais. É soro, ainda, a solução de substância orgânica ou mineral que se emprega na hidratação ou alimentação de pessoa enferma ou como veículo de medicamento.

FOTO FALANTE DO PRESIDENTE DO SENADO

O recém-eleito presidente do Senado, Renan Calheiros, passava em revista a guarda do Palácio do Planalto. Vejam que foto falante!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

MARIA-CHUTEIRA, MARIA-SEM-VERGONHA, MARIA-APOSTILA, MARIA-LATTES

Os dicionários ainda não registram todas as marias. E já nasceram mais duas: a maria-apostila e a maria-lattes. Elas mandam recados obscenos aos mestres. Usam para isso os exercícios, as provas, as redes sociais, as apostilas e também a Plataforma Lattes do CNPQ, onde estão os currículos dos professores universitários. Quem as registrou foi o jornalista Nelson Motta, em O Globo, 01 fev 13, p.23. Todos tivemos e temos outras marias em nossas vidas. “Maria-condé”, dizíamos todos, um de cada vez. “Bate nas costas e vai te esconder”, respondia a criança escolhida para procurar as outras. Estávamos no Sul. Em outras regiões do Brasil, a brincadeira infantil tem outros nomes, como maria-macumbé e maria-mucanguê. Já maria-chiquinha é assim definida no Dicionário Aulete: “Penteado feminino em que o cabelo (de comprimento médio a comprido) é dividido ao meio, do alto até a nuca, e as madeixas são presas, separadamente, por elásticos ou fitas, junto à cabeça.” Quando minha mãe teve vocação para eu ser padre, quem me levou à estação ferroviária foi meu pai. Lá conheci a maria-fumaça. Não viajei na primeira classe, a última, bem longe da fumaceira, com bancos estofados. Viajei na segunda, pertinho da fumaceira, sentado em banco de madeira. Dali a sete anos, quando deixava o seminário, embarcava de novo na maria-fumaça, que os dicionários definem como “tipo de locomotiva movida a vapor”, mas que designa também a pessoa que fuma demais. Eu já estava crescidinho, mas ainda não tinha comido maria-isabel. Nem tico-tico aliás. Mas este não vem ao caso, é apenas sinônimo de maria-judia, que também não comi. Apresso-me a dizer que maria-isabel designa um prato feito de arroz com carne-seca, comida típica do Araguaia. E que maria-judia é um passarinho. E judia sozinha é um peixe, embora o Espanhol tenha judía, equivalente ao nosso feijão-de-frade ou feijão-fradinho, em geral comido em forma de saladas ou misturado a acarajés. Maria-mole já comi. É doce feito de clara de ovo e coco. Maria-vai-com-as outras designa pessoa sem vontade própria, cujo nome se deve à mãe de Dom João VI, a rainha Maria I, a Louca, que não podia mais sair de casa por vontade própria, sozinha, e saía sempre com outras marias, que a amparavam, guiavam e cuidavam, pois tinha enlouquecido. Maria-mijona designa a menina, moça ou mulher feita, que veste roupas compridas, desjeitosas, saias tortas. Maria-gasolina é a garota que se interessa mais pelo tipo de carro do que pelo motorista. Maria-chuteira surgiu à beira dos campos de futebol, de olho nos jogadores, qualquer um, por mais feio que nos pareça, mostrando um sorriso de pensão alimentícia, que lhes vai garantir o sonho de viver sem trabalhar. A maria-apostila e a maria-lattes são tão atrevidas que a maria-sem-vergonha anda com uma cor ainda mais rubra nas flores, exalando junto com o perfume uma inusitada timidez. (xx) • Escritor, professor e vice-reitor da Universidade Estácio de Sá. .